BIODIVERSIDADE

O bioma Mata Atlântica com apenas 8% de sua cobertura original, encontra-se extremamente devastado e ainda pouco se conhece sobre sua diversidade vegetal. Aproximadamente 95% da Floresta Atlântica se encontra em território brasileiro e o restante na Argentina e no Paraguai (Conservation International et al. ,2000). Das cerca de 20.000 espécies conhecidas, 40% são endêmicas. Em pequenos remanescentes, com frequência, são encontradas espécies ainda não descritas cientificamente e que podem ser extintas antes de se tornarem conhecidas. Informações sobre a composição da flora de uma determinada área podem ser obtidas diretamente em levantamentos de campo ou através de dados secundários coletados de estudos anteriores. Estas informações disponibilizam conhecimentos que servirão de base para o desenvolvimento de outros estudos, como a taxonomia, ecologia, distribuição geográfica e recuperação de áreas degradadas (Souza et al, 2009). Fornecem também informações importantes para a verificação de possíveis endemismos e para acrescentar conhecimentos que podem subsidiar a determinação de áreas prioritárias para a conservação (Borges & Azevedo et al., 2011).

Os critérios de avaliação do risco de extinção levam em conta escalas temporais, espaciais, número de indivíduos, assim como a incidência de ameaças sobre a espécie, por isso também exigem a reunião de dados históricos sobre as mesmas. Assim, a revisão regular das Listas Vermelhas é uma importante medida a ser incorporada pelos países e estados, pois permite a análise de dados atualizados (Biodiversitas 2009 apud Martinelli & Moraes 2013).

Neste contexto, a União dos Escoteiros do Brasil – Região Rio de Janeiro (UEB-RJ), detentora de uma área de Mata de Baixada na região de Magé, Rio de Janeiro, em 2009, transformou a área em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), atendendo ao disposto na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, nº 9.985 de 18 de Julho de 2000. A elaboração do “Plano de Manejo da RPPN Campo Escoteiro Geraldo Hugo Nunes”, será mais um passo rumo à plena legalidade da ação de conservação do seu proprietário, definindo as atividades e normas de funcionamento e a identificação de setores ou zonas, com objetivos e normas de manejo específico, visando proporcionar meios para que todos os objetivos da unidade sejam alcançados de forma eficaz, levando em conta principalmente, a proteção da biodiversidade, finalidade de sua criação.

O que é biodiversidade?

BIODIVERSIDADE é a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas.

Brasil – um país megadiverso

Há aproximadamente 1,75 milhões de espécies descritas, mas as estimativas são de que existam entre 30 e 100 milhões de espécies no Planeta;

O Brasil é o país com maior índice de biodiversidade terrestre do planeta: 13% a 15% da biodiversidade mundial (megadiverso) e com o maior endemismo;

Detém 4 dos biomas terrestres com maior biodiversidade do planeta (Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal).

Características da RPPN

Flora

A área pode ser caracterizada como um remanescente de Floresta Ombrófila Densa (IBGE, 2004) em estágio sucessional secundário avançado (Resolução CONAMA, 1994), de fácil acesso.

A Reserva possui espécies de grande importância conservacionista para a flora. Guarda espécies pouco representadas nos herbários como Doliocarpus grandiflorus (Dilleniaceae), espécie nativa e endêmica que apresenta distribuição geográfica restrita à Mata Atlântica do sudeste do Brasil, nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro e ainda não avaliada quanto à ameaça, uma espécie considerada rara como Miconia elaeodendron (Melastomataceae), endêmica do Brasil com distribuição restrita ao Estado do Rio de Janeiro, ainda não avaliada quanto à ameaça (Lista das espécies da Flora do Brasil, 2014).

Esta reserva também retém uma importância em relação à alimentação de aves, com frutos das famílias Melastomataceae e Nyctaginaceae, em diversos estádios de maturação (verdes, vermelhos e anegrados), que servem como alimento para dezenas de aves, conforme afirmado por Guedes (1988).

O inventário florístico realizado em 2014 resultou em 283 espécies pertencentes a 74 famílias. As famílias com mais espécies foram Myrtaceae (27), Rubiaceae (21), Fabaceae (19), Asteraceae (17) e Melastomataceae (14).

Clima

A dinâmica das massas de ar na região central do estado do Rio de Janeiro caracteriza-se pelo domínio da Massa Tropical Atlântica na maior parte do ano. Esta massa apresenta umidade e temperatura relativamente altas. Durante o ano ocorrem entradas da Massa Polar Antártica de característica seca e fria. Quando da entrada desta massa há um impacto com a Massa Tropical Atlântica e a geração dos grandes eventos de precipitação característicos do Rio de Janeiro (ICMBio, 2014).

O clima da região de Magé, onde está inserida a RPPN, de acordo com a classificação de Bernardes (1952), é quente e úmido, sem estação seca. Corresponde ao tipo Af, com base na classificação de Koppen, onde:

A: Clima tropical – climas megatérmicos, temperatura média do mês mais frio do ano > 18ºC, estação invernosa ausente, forte precipitação anual (superior à evapotranspiração potencial anual).

f: Clima úmido, ocorrência de precipitação em todos os meses do ano, inexistência de estação seca definida.

As normais climatológicas calculadas a partir da estação meteorológica de Citrolândia, a mais próxima à RPPN, indicam uma temperatura média anual de 21,9º C, sendo janeiro o mês mais quente alcançando 25,3ºC e julho o mês mais frio atingindo 17,9ºC.

A precipitação é abundante, com total anual de 2050 mm, variando as médias mensais de 337,8 mm (fevereiro) a 59,3 mm (julho).

Os meses de menor pluviosidade são os de maio a outubro, que correspondem aos meses mais frios, registrados no período de 1982 a 2012. 

Temperatura

A temperatura média do mês de fevereiro, o mês mais quente do ano, é de 26,3ºC. Ao longo do ano, o mês de fevereiro apresenta uma temperatura média igual a 20,0ºC, representando a temperatura média mais baixa do ano, registrada no período de 1982 a 2012.  

 

GráficoClimáticoMagé.png

Figura- Gráfico de temperatura ao longo de um ano para a região de Magé, RJ. FONTE: Climate-Data.org (1982 a 2012)

Fauna

Aves

 

A RPPN é, até hoje, o único ponto de ocorrência conhecido da enigmática espécie Myrmotherula fluminensis-choquinha-fluminense. São 173 espécies de aves, incluindo quatro da Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção do Brasil (MMA, 2008) e da Red List da IUCN (2017) Amadonastur lacernulatus, Touit surda, Myrmotherula fluminensis e Sporophila falcirostris e mais duas espécies incluídas apenas na lista regional (Alves et al., 2000) Tangara brasiliensis e Patagioenas speciosa. Apesar disso a avifauna da RPPN ainda é pouco conhecida e, provavelmente, existem muitas espécies a serem acrescentadas a esta lista.

Veja lista completa de aves no link – lista de aves – RPPN – 

Espécie Chiasmocleis carvalhoi
Espécie Euparkerella cochranae

Anfíbios

O solo da RPPN, de drenagem deficiente possibilita a formação de trechos alagadiços e trechos permanentemente encharcados nas cotas mais baixas do terreno o que propicia esta grande riqueza de anuros local, já que a maioria das espécies da região depende desses tipos de ambientes para reprodução.

Os anfíbios anuros da região foram inventariados e estudados desde a década de 1980 e, ao todo, 40 espécies da ordem Anura distribuídas em 10 famílias, foram encontradas na RPPN, representando aproximadamente 10% das espécies da mata atlântica. Os anfíbios dessa ordem fazem-se notar com frequência pela emissão de vozes e pela presença constante nas camadas inferiores de folhagens e no solo da mata.

Os elementos mais notáveis são Rhinella hoogmoedi que apresenta cor críptica com a serrapilheira, local que habita, e está associada ao ambiente reprodutivo de riacho de água límpida, rasa, de leve correnteza e de interior de mata, onde geralmente vocaliza na margem. Entretanto, na RPPN CEGHN, alguns espécimes foram encontrados vocalizando empoleirados em brejaúvas, (coqueiro-de-iri), a mais de dois metros de altura. Esta palmeira acumula folhas secas caídas de outras plantas em seu caule por meio dos acúleos (projeções epidérmicas espinescentes) aparentemente propiciando maior estrato espacial e camuflagem para a espécie;

Euparkerella cochranae possui tamanho diminuto e é endêmica do Estado do Rio de Janeiro, com poucos locais conhecidos sobre sua ocorrência. A espécie, que tem como localidade tipo a subsede do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, também no Município de Guapimirim, é comum na região principalmente dentro dos limites da área da RPPN onde há serrapilheira acumulada;

A espécie Chiasmocleis carvalhoi encontra-se atualmente incluída na categoria “Em Perigo” de extinção, de acordo com a Lista Vermelha da IUCN ( Silva – Soares et al., 2010), contudo a espécie é comumente encontrada na área da RPPN e entorno.

Mamíferos

Os mamíferos arborícolas de hábitos diurnos registrados foram Guerlinguetus ingrami–caxinguelê e a preguiça, provavelmente da espécie Bradypus torquatus, preguiça-de- coleira. B. torquatus foi categorizada na avaliação estadual para o Rio de Janeiro, como criticamente em perigo (CR) (Chiarello et al., 2015). É possível encontrar vestígios em campo como tocas de Dasypus novemcinctu-tatu, Cuniculus paca-paca, Dasyprocta leporina-cutia.

 
Espécies de mamíferos ocorrentes na RPPN Campo Escoteiro Geraldo Hugo Nunes, Rio de Janeiro, RJ:.a: Sciurus ingrami–caxinguelê; b: Bradypus Torquatus, preguiça-de- coleira; c: Speothos venaticus- cachorro-do-mato-cachorro-vinagre; d: Dasypus novemcinctu-tatu; e: Cuniculus paca-paca; f: Dasyprocta leporina-cutia

Repteis

Lagartos arborícolas e ofídios são esporadicamente observados, encontrando-se com maior frequência nas bordas da mata e em outros lugares ensolarados.

Tupinambis teguixin-teiú e Tropidurus torquatus-calango. Merecem destaque os inúmeros relatos de Bothrops jararaca-jararaca, enquanto quelônios nunca foram encontrados (Gonzaga, 1986).

Espécie Tropidurus torquatus-calango

Peixes

Quanto à ictiofauna, é registrada a presença de Leptopanchax splendens da família Rivulidae e ordem Cyprinodontiformes, nativa do Brasil categorizada como Vulnerável (VU) (IUCN, 1996).  A espécie é adaptada somente a sistemas temporários com propriedades ambientais particulares. Na RPPN ocorre um regime temporal de cheias, em que a espécie deposita seus ovos na poça e quando o sistema seca os pais morrem e somente os ovos permanecem.  Ao ocorrerem alterações na concentração de oxigénio-dióxido de carbono, o desenvolvimento embrionário é concluído (Remeur 1981 apud Tanizaki et al., 1991; Costa & Lacerda, 1988).

Também são encontradas na área as espécies Callichthys callichthys-cascudo; Phalloceros caudimaculatus-barrigudinho; Rivulus santensis-mini-traíra; Astyanax sp– lambari, piaba; Hyphessobrycon sp-engraçadinho, mato-grosso, serpa-tetra; Synbranchus marmoratus– muçum, peixe-cobra, enguia- d’ água –doce.

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